COE é a sigla para Certificados de Operações Estruturadas. Trata-se de um produto de investimento emitido por bancos e comercializado por instituições financeiras (corretoras e bancos). O COE foi inspirado nas Notas Estruturadas, aplicação financeira muito popular na Europa e nos Estados Unidos, cujo volume é responsável por 10% do funding bancário mundial.
No Brasil, a história do COE é mais recente. Ele foi regulamentado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 2013 e começou a ser comercializado apenas em 2015. Segundo dados da B3 (Brasil Bolsa Balcão), o COE é vendido por 21 corretoras e emitido por 15 bancos. No fim de 2018, o volume em estoque do produto alcançou R$ 17 bilhões. Desse total, quase R$ 11 bilhões foram aplicados ao longo do ano passado. Isso revela uma impulsão recente do mercado à comercialização dos COEs.
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Como o COE funciona?
O COE é um produto que reúne diferentes ativos de investimentos em um único lugar. Ele é uma espécie de “pacote” composto parte por renda fixa (CDB) e parte por renda variável (dólar, ações, commodities etc.) A composição de cada parte é determinada pelo emissor do produto, e deve ser avaliada pelo investidor no momento da contratação. É no DIE (Documento de Informações Essenciais) que consta a composição do COE, qual é a instituição emissora, rentabilidade estimada, data-alvo e proteção (ou não) do valor investido. Esse documento deve ser entregue pela corretora ou banco escolhido pelo investidor.
Em geral, os COEs têm metas pré-estabelecidas, que servem como uma referência ou aposta de retorno futuro. Não há nenhuma garantia de rentabilidade; o valor de referência é apenas um limite para o ganho calculado.
A parte de renda fixa serve como um seguro para eventuais perdas em renda variável. Mas fique atento: alguns COEs podem implicar na perda de 100% do valor investido.
Existem dois tipos de COE: o valor nominal protegido e o valor nominal em risco. O primeiro garante que, mesmo que haja alguma variação negativa nos ativos contidos no “pacote” do COE, o investidor receberá o valor do aporte de volta. Não há nenhum tipo de correção – ou seja, pode haver rentabilidade negativa, devido à variação inflacionária do período. No segundo caso, o investidor pode perder tudo que investiu, mas não terá nenhum ônus extra – ou seja, não haverá saldo negativo. No Brasil, quase a totalidade dos COEs emitidos entram na modalidade de protegidos. No exterior, essa proporção é meio a meio.
As metas atreladas ao rendimento do COE funcionam da seguinte forma: determina-se que o conjunto de ativos do COE devem atingir um valor acima do índice de referência, em um período de X anos. Por exemplo: se as ações de três empresas diferentes atingirem uma variação de 20% do Ibovespa em 2 anos, o investidor receberá os 20% de retorno. Tais 20%, em geral, representam um limite. Ou seja, mesmo que as ações se valorizem 30% ou 40% do estipulado, só os 20% irão para o investidor.
Caso o retorno não seja atingido, há duas possibilidades: o investidor receberá somente o que investiu, caso tenha optado pelo valor nominal protegido; ou não receberá nada, caso tenha optado pelo valor nominal em risco. A opção de receber o valor investido pode ser vantajosa quando há perdas relevantes nos ativos. Por exemplo: se o investidor tivesse aplicado diretamente nas ações de uma empresa, e esses papéis tivessem se desvalorizado, ele não resgataria o que aplicou inicialmente.
Mas é importante ficar atento a outro detalhe. No caso do COE, com meta atrelada a três ações de empresas, se duas delas subirem 40% e a terceira subir somente 19%, o investidor não terá atingido a meta dos 20% e não terá direito de recolher o ganho.
É preciso ficar atento também ao prazo de vencimento do COE. Muitas instituições têm emitido COEs com prazo de vencimento de cinco anos. Quanto mais distante for a data-alvo, mais difícil será prever os eventos que podem influenciar no atingimento da meta. Ou seja: o investidor acaba tomando uma dose maior de risco, com uma perda potencial maior (lembre-se que, após cinco anos, a correção inflacionária será maior, então ele pode ter uma perda real significante).
Alguns COEs preveem o mecanismo do “autocall”. Isso significa que, caso a meta de rentabilidade seja atingida antes do fim do prazo do investimento, o investidor recebe os recursos antecipadamente.
Qual é o perfil de risco do COE?
Apesar de ter uma composição de renda fixa, o COE é considerado um investimento de risco moderado. A possibilidade de não atingir a rentabilidade estipulada deve ser levada em conta. Um levantamento de 2018 mostrou que 54% dos COEs rendiam menos que o CDI. Ou seja: apesar das promessas de grandes ganhos, mais da metade desses ativos estavam remunerando menos que aplicações conservadoras, como as em Tesouro Direto ou até mesmo em poupança.
O COE não é protegido pelo Fundo Garantidor de Crédito. Caso o banco emissor for à falência, não há cobertura oficial que resguarde os investidores. Por isso, é recomendável optar por instituições sólidas e pesquisar sobre suas condições financeiras. Entre os maiores emissores de COE estão os grandes bancos brasileiros (Itaú, Bradesco, Santander e Safra), além de algumas instituições estrangeiras, como o Citibank.
A liquidez do COE é muito baixa, o que significa que o investidor só poderá resgatar os recursos na data-alvo estipulada. Caso haja o “autocall”, esse prazo pode ser abreviado, como já explicamos.
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O COE tem taxa de administração? Como funciona a remuneração da corretora?
Sim, e nem sempre essas taxas são indicadas no momento da contratação. Uma das razões para o aumento da popularidade dos COEs é a vantagem financeira para os emissores (bancos) e comercializadores (corretoras). Para os bancos, o benefício é o de captação de recursos a um valor mais baixo. Em geral, a parte de renda fixa do COE é destinada aos próprios emissores. Ou seja: você está emprestando dinheiro para o banco, sem retorno garantido.
Muitas carteiras têm sido indicadas com alguma composição de COEs, sem que todas as vantagens e desvantagens tenham sido explicadas. Estima-se que a taxa de administração cobrada pelos comercializadores seja de 5%, em média, podendo chegar a 10% em algumas instituições. Parte disso fica com o assessor de investimentos, por isso é importante ter cautela com a oferta entusiasmada de COEs.
O COE, ao contrário de alguns fundos, não sofre a cobrança de come-cotas. O rendimento é tributado com a mesma tabela que referencia a cobrança de Imposto de Renda de produtos de renda fixa. Veja abaixo:
Período de aplicação | Alíquota de IR |
Até 6 meses | 22,5% |
De 6 meses a 1 ano | 20% |
De 1 a 2 anos | 17,5% |
Mais de 2 anos | 15% |
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