Quem é a BPP, a fintech que atua onde outras não querem entrar

Por Fernanda Santos

A fintech BPP já emitiu mais de 3 milhões de cartões pré-pagos e projeta crescer 200% em 2019. O foco agora é a pessoa física

A empresa é pioneira no cartão virtual da Visa, usado para fazer compras em sites do exterior com mais segurança

Os cartões pré-pagos estão deixando de ser exclusividade das empresas para fazer parte do dia a dia das famílias. No Brasil, quem está por trás do aumento desse mercado é a fintech BPP, que nasceu como Brasil Pré-Pago e já emitiu mais de 3 milhões desses cartões - cerca de 1 milhão estão ativos.

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“Não somos startup. Nós somos os grandes dos pequenos”, diz fundador da BPP, fintech brasileira de cartões pré-pagos

Fundada em 2013 pelos antigos donos da Confidence Cambio, a empresa com sede na cidade paulista de Barueri foi criada para atender as necessidades corporativas. Com o tempo, avançou para as pessoas físicas e abriu um escritório nos Estados Unidos para atender clientes de outros países. Recentemente, lançou uma conta digital e , em 2019, a projeção é crescer 200%.

“A economia está animada, estamos com sistemas novos e mais clientes entrando. Queremos chegar aos 3 milhões de contas”, diz Paulo Della Volpe, presidente da Payments Holding, grupo controlador da BPP.

Além de os cartões pré-pagos serem práticos e ajudarem no controle financeiro, inclusive das crianças que recebem mesadas por eles, são uma forma mais segura de fazer pagamentos. O cartão virtual emitido pela BPP, por exemplo, é usado para compras em sites estrangeiros. Eles funcionam como se fosse um cartão de crédito internacional. O cliente gera um cartão, carrega em dólares e faz a compra sem precisar passar os dados bancários. Cada cartão da BPP tem uma taxa de R$ 5 ao mês e de R$ 7 para saques.

O IQ conversou com Della Volpe para entender os planos da fintech. Confira a entrevista:

IQ – De onde surgiu a ideia de criar a BPP?
Paulo Della Volpe – Éramos da Confidence Cambio. No ano de 2005/2006, começamos a trabalhar com um cartão chamado Visa Travel Money, que era um cartão pré-pago. Quando vendemos a Confidence, em 2011, éramos um dos maiores vendedores de Visa Travel Money do mundo e tínhamos uma plataforma de cartão pré-pago muito robusta e tecnológica. A Visa falava que era uma das melhores do mundo e nos convidou para continuar no negócio. Mas a gente não podia mais trabalhar com câmbio, então fomos trabalhar em reais e surgiu o conceito da tropicalização da plataforma. Da revitalização nasceu a Brasil Pré-Pagos da época, que hoje é a BPP.

turma da monica_bppIQ – Como foi a trajetória até aqui?
Della Volpe – Ela começou com o B2B. Depois, passamos a trabalhar também com segmentos de pessoas que tinham empregada doméstica, tinham que dar mesada para o filho e assim por diante. Fomos crescendo no segmento e começamos a fazer convênio com os cartões do Flamengo, da Mesada Turma da Mônica, ou seja, ampliamos o leque. Em 2014, trabalhamos para a Copa do Mundo com pagamento de voluntários e começamos a trajetória com o cartão virtual. Somos o primeiro cartão virtual da Visa. Em 2016, a empresa deu um boom porque fizemos todos os projetos de inovação da Visa para a Olimpíada. Em 2018, tivemos a segunda grande virada da história. O Banco Central nos colocou como instituição de pagamento regulada, o que significa que o cliente agora pode ter agência e conta aqui dentro, como se fosse um banco. Isso nos abriu novos horizontes.

“Somos o primeiro cartão virtual da Visa. Em 2016, a empresa deu um boom porque fizemos todos os projetos de inovação da Visa para a Olimpíada”, diz o Della Volpe.

IQ – Como funciona o cartão virtual?
Della Volpe É simples. Quando alguém não tem cartão de crédito e quer fazer uma compra online, utiliza nossos cartões. Se você entra no site do PayPal, no Ebay, e não tem cartão de crédito ou não tem cartão internacional para fazer a compra, precisa criar um cartão. Então, nós geramos um cartão que não é físico, mas tem um número para essa compra. A pessoa carrega ele em dólar para fazer a transação internacional. É como se usasse um Visa Travel Money, mas sem o plástico.

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IQ – Qual foi a maior dificuldade que vocês encontraram?
Della Volpe Basicamente, antes da gente o único universo que existia de cartões pré-pagos eram os vouchers, Vale Refeição, Vale Alimentação e Vale Transporte. Tudo era ligado a questões legais (direitos), nada de utilização comum. As pessoas foram descobrindo o pré-pago. Elas descobriram, ao longo do tempo, que essa era uma opção para pagar a mesada do filho, pagar a faxineira. Toda vez que você inicia uma coisa nova, diferente do que as pessoas fazem, tem um período para as pessoas se acostumarem.

“As pessoas foram descobrindo o pré-pago. Elas descobriram, ao longo do tempo, que essa era uma opção para pagar a mesada do filho, pagar a faxineira”, afirma o sócio da BPP.

IQ – Qual foi a estratégia da BPP para ficar conhecida?
Della Volpe Mapeamos os nichos e sabíamos o que queríamos fazer. A gente pensou que se pegasse um segmento de mercado que ninguém fazia, seríamos bem-sucedido. Não fomos surpreendidos por nada. Também ajudou o fato de sermos conhecidos como emissores, como proprietários de uma instituição financeira. Além disso, temos muita experiência e a Visa sempre caminhou lado a lado conosco.

IQ – Os bancos são concorrentes nesse negócio?
Della Volpe Acho que é um outro tipo de mercado. Vou dar um exemplo simples: os motoboys da Rappi são todos pagos por nós. Ou as comissões da Herbalife. O banco tradicional não tem interesse em nichos tão específicos. A gente atua numa lógica em que ninguém está interessado.

“Os motoboys da Rappi são todos pagos por nós. Ou as comissões da Herbalife. O banco tradicional não tem interesse em nichos tão específicos. A gente atua numa lógica em que ninguém está interessado”, diz Della Volpe.

IQ – Mas há concorrência com outras fintechs, não?
Della Volpe Nós estamos no mercado financeiro há 30 anos. Temos 500 funcionários. Não somos uma startup, somos os grandes dos pequenos. Não dá para comparar com empresas menores que são muito boas, mas procuram a gente para que sejamos o hub (ponto central de distribuição) deles porque eles só têm um aplicativo e não têm autorização do Banco Central. Eles não entendem o que é fraude, lavagem de dinheiro, ouvidoria. Eles atuam em coisas que não nos atraem. Assim como nós não atraímos os bancos, as fintechs não nos atraem.

IQ – E quais são os planos para 2019?
Della Volpe Até abril, vamos fazer a migração de tudo o que tínhamos de cartão pré-pago para as contas do 301 e entrar no mundo físico de uma maneira que seja boa para o cliente. Você tem a mesma lógica de produtos, mas com mais funcionalidades. Nossa taxa de crescimento é de 100% ao ano. Se eu falar que queremos crescer 200% este ano você acredita? A economia está animada, estamos com sistemas novos e clientes novos entrando. Queremos chegar a 3 milhões de contas.

“Até abril, vamos fazer a migração de tudo o que tínhamos de cartão pré-pago para as contas do 301 e entrar no mundo físico de uma maneira que seja boa para o cliente”, afirma o presidente da BPP.

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