Wall Street: o mito e a história sobre o coração financeiro dos EUA

Por Redação

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Você pode até tentar contar mentalmente, mas é impossível listar todos os filmes que são ambientados em Wall Street, local considerado o centro financeiro dos Estados Unidos. A aura mágica da rua, localizada ao sul da ilha de Manhattan, em Nova York, é pano de fundo para ricos enredos e personagens – muitos inspirados em histórias reais.

O longa “O Lobo de Wall Street” (2013) conta a real carreira do corretor Jordan Belfort, cuja trajetória na bolsa de valores de Nova York foi do ápice à lama, e recebeu 5 indicações ao Oscar de 2014. Belfort foi interpretado pelo astro Leonardo DiCaprio, que deu uma roupagem única à lenda do corretor que lucrou às custas de enganar outras pessoas.

A lista de filmes continua: com enredo parecido, o clássico “Wall Street: Poder e Cobiça” (1987) retrata a ascensão por caminhos tortuosos de Gordon Gekko, um corretor de valores inescrupuloso. Preso, Gekko volta na sequencia “Wall Street 2 – O Dinheiro Nunca Dorme” (2010); e “A Grande Aposta” (2015) mostra um grupo que remou contra a maré, apostou na quebra do setor imobiliário dos Estados Unidos, e ganhou muito dinheiro.

Mas por que essa rua de oito quadras em Nova York ganhou fama comparável à de grandes monumentos e cartões postais?

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História de Wall Street

O nome da rua está ligado às origens de Nova York, ainda no século XVII, quando os holandeses ocuparam a região e a batizaram de Nova Amsterdã. Sob a justificativa de evitar invasões britânicas, de piratas e dos índios nativos, os holandeses ergueram um muro de madeira na parte sudeste da ilha – daí vem o nome Wall (muro) Street (rua).

A região também era conhecida por ser um ponto de tráfico de escravos e a localização estratégica – próxima ao mar – tornou a área em torno do muro um ponto seguro e central para esse tipo de negócio. Não demorou muito para a região se transformar em um centro de todo tipo de comércio – não só de escravos, mas também de outras mercadorias, como tabaco e trigo, além de títulos mobiliários. Foi assim que, no final do século XVIII, surgiu a Bolsa de Valores de Nova York (conhecida como NYSE).

O centro de negociações fez com que muitos bancos e empresas se mudassem para a região. Atraída pelos negócios efervescentes, parte da elite americana, como a família Rockfeller, também fincou raízes em Nova York. Wall Street, no entanto, seguiu como um distrito comercial – havia pouquíssimas residências na região. Chamava a atenção a forma com que as ruas transbordavam movimento durante o horário comercial, e transformavam-se em um deserto completo durante a noite e aos finais de semana.

Ao longo das décadas seguintes, todos os grandes bancos americanos construíram seus escritórios em Wall Street. No fim do século XX, a região abrigava as sedes dos bancos JP Morgan, Citi, Goldman Sachs, Morgan Stanley, Merrill Lynch e Lehman Brothers.

A região foi palco – e de certa forma protagonista – da Grande Depressão nos Estados Unidos. A pior crise da história americana, que causou taxas estratosféricas de desemprego, teve origem em uma queda de 12% na bolsa de valores de Nova York. Wall Street também foi o epicentro da crise de títulos imobiliários, em 2007, que levou à falência de uma das mais tradicionais instituições financeiras do país, o Lehman Brothers.

Sobrevivente de crises e guerras – desde a Guerra Civil americana à Segunda Guerra Mundial – a região passou por profundas mudanças e, apesar de não perder a majestosa condição de centro financeiro mundial, está longe de ser o que foi no passado.

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Metamorfose de uma sobrevivente

Não foram só as guerras e crises financeiras que afetaram as empresas instaladas em Wall Street. Alguns outros fatores importantes contribuíram para a transformação da região. O primeiro deles foi o ataque às Torres Gêmeas, no dia 11 de setembro de 2001.

Apesar de estarem localizadas a noroeste da rua Street, as torres gêmeas faziam parte do distrito financeiro de Manhattan. O complexo empresarial, composto por dois prédios de mais de 100 andares, abrigava os escritórios de importantes bancos, financeiras e seguradoras, cujos funcionários engrossaram as estatísticas de vítimas.

O episódio deixou uma marca permanente na história dos Estados Unidos, mas também na forma com que as empresas viam a região. O ataque terrorista fez com que a Wall Street ficasse em vigia permanente por meses – a NYSE, por exemplo, foi cercada por barricadas e barreiras de oficiais. Muitas empresas aceleraram os planos de mudança. Parte do escritório da NASDAQ, a segunda maior bolsa de valores dos Estados Unidos, que ficava dentro do distrito financeiro mudou-se rumo ao norte da ilha, na Times Square.

O segundo fator importante foi a própria mudança da dinâmica do mercado financeiro mundial. As bolsas da Ásia, principalmente da China e Hong Kong, têm atraído cada vez mais empresas e estão se aproximando da NYSE e NASDAQ na lista de maior volume diário transacionado. (Veja neste artigo a lista das maiores bolsas de valores do mundo).

É claro que sempre haverá a aura mágica sob Wall Street, que atrai os admiradores do mercado financeiro – que o diga o famoso touro de bronze, localizado no Distrito Financeiro, próximo à bolsa de valores, que carrega a lenda de transferir riqueza para quem toca no seu chifre ou nos testículos. O fato é que a região está, cada vez mais, atraindo turistas, e não empresas.

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Tamanho e relevância de Wall Street

Outra forma de dimensionar as a relevância de Wall Street é examinando seus números. Estima-se que a região seja responsável por mais de 160 mil vagas de emprego, o que representa cerca de 5% da força de trabalho da cidade. Apesar de constituir uma pequena fatia, os trabalhadores da região recebem uma média de US$ 360 mil por ano, ou seja, 20% dos salários totais da cidade.

Os impostos pagos pelas empresas e pessoas da região representam em torno de um terço do total arrecadado pelo estado de Nova York. Ainda que a economia americana esteja em expansão, tanto o governo estadual como o local têm se esforçado para reter as empresas e os investimentos na região.

O esforço, apesar de ser contínuo, não tem sido tão eficaz. O atual prefeito de Nova York, Bill de Blasio, disse recentemente que a cidade deve perder US$ 1 bilhão de arrecadação em impostos por causa de efeitos negativos no mercado de ações.

Nova York, que historicamente fez das taxas cobradas dos comerciantes o alicerce de seu crescimento, pode estar, agora, contra a parede.

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